Entrevista com o treinador de futsal Sérgio Roque

Entrevista com o treinador de futsal Sérgio Roque

Nesta segunda entrevista o Magazine-Futsal esteve à conversa com Sérgio Roque de 37 anos natural de Portalegre, treinador com um currículo invejável onde já ganhou todas as competições organizadas pela A.F.P.D. Já passou por 6 clubes em São Miguel. Atualmente é o selecionador de Futsal da A.F.P.D. e é também treinador e Coordenador geral do Futsal no Clube Norte Crescente onde é o responsável por 7 equipas de formação.

 

Magazine-Futsal- O Sérgio entra para o Futsal não como treinador mas como preparador físico no Lagoa e Benfica, já nesta altura pensava em tirar o curso de treinador?

Sérgio Roque- Não, nessa altura trabalhava na escola e vivia na Lagoa e por intermédio de algumas pessoas conhecidas em comum, foi-me apresentado o senhor Vítor Santos que era treinador e presidente desse Clube e após algumas conversas que tivemos sobre a modalidade, fez-me o convite para trabalhar como preparador físico na equipa sénior de Futsal. 

Magazine-Futsal- Em 2003 era treinador de guarda-redes no Operário em futebol, no ano seguinte entrou para o futsal e ficou até hoje. O futsal sempre foi a sua paixão?

Sérgio Roque- Foi uma paixão que se tornou mais forte com o passar dos anos e com as experiências adquiridas nos diversos clubes por onde passei. Na minha juventude pratiquei futebol federado e nos Verãos, jogava futebol de salão com os meus amigos. Só quando comecei a trabalhar no Lagoa e Benfica e no Pico da Pedra e principalmente quando tive a oportunidade de tirar o Curso de Nível I, me apercebi da evolução da modalidade quer no plano nacional bem no plano regional. 

Magazine-Futsal- Em 2006 tirou o curso de treinador e ficou a trabalhar como treinador adjunto no Pico da Pedra, porem mais tarde assumiu o cargo de treinador principal, isto numa época em que a equipa venceu tudo incluindo o Regional o qual deu acesso à 3ª divisão nacional. Considera que esta foi a sua melhor época?

Sérgio Roque- Após a minha saída do Lagoa e Benfica, recebi o convite para trabalhar no Pico da Pedra através do treinador principal e grande amigo Pedro Freitas e nessa 1ª época que estivemos juntos e com um excelente grupo de atletas, bem como uma fantástica Direcção, conseguimos conquistar todas as competições internas, culminando no título Regional e acesso na época seguinte à 3ª Divisão Nacional de futsal.

Na época seguinte, fruto da nossa inexperiência a todos os níveis, não conseguimos alcançar a manutenção e acabámos por descer aos regionais. Nessa altura, na minha opinião, ainda havia pouca noção do quanto ainda estávamos “atrasados” em termos competitivos, e que seria sempre muito complicado alcançar outros patamares a nível nacional, salvo exceções como aconteceu com o Lagoa e Benfica e mais tarde com o Operário que fizeram apostas muito fortes com a vinda de treinadores e jogadores mais credenciados do Continente.        

Magazine-Futsal- Como preparador físico trabalhou com os treinadores Vítor Santos, Pedro Freitas e António Fernandes. Estes treinadores tiveram alguma influência na sua decisão de ser também treinador?

Sérgio Roque- Claro que sim, Não é fácil chegar a uma ilha neste caso a S. Miguel,  para trabalhar e construir uma vida, e foi graças a estas pessoas que considero também grandes amigos, que me proporcionaram a oportunidade de ser aquilo que sou como treinador.

Magazine-Futsal- Em 2010 começa uma nova etapa na sua carreira quando assume o comando técnico do Santa Clara em séniores femininos, foi este o maior desafio da sua carreira?

Sérgio Roque- Não! Foi sem dúvida um dos projectos mais ambiciosos que tive, ainda na minha curta carreira como treinador, uma vez que o clube já tinha estado em 3 presenças no Campeonato Regional e não tinham conseguido alcançar o Título Regional e foi com essa intenção que eu aceitei o convite que me fizeram.

Numa avaliação global destes 3 anos, penso que consegui com a ajuda das atletas e dos responsáveis pelo Departamento de Futsal do Clube, criar bases sustentadas para poderem continuar a ser uma equipa bastante competitiva e a lutar por todas as competições em que estivessem inseridas. 

Magazine-Futsal- Esteve 3 anos no Santa Clara onde ganhou 3 campeonatos e 5 taças, no entanto saiu antes da época acabar e com uma final da taça por disputar, o que foi uma surpresa na altura. Quais foram os motivos para a sua saída do Santa Clara?

Sérgio Roque- Todos nós sabemos que todos os clubes desta ilha passam por dificuldades financeiras e o Santa Clara não é exceção. Agora o que os seus dirigentes não devem fazer, é assumir compromissos que depois não conseguem cumprir, e no meu caso, chegou a um ponto que se tornou insustentável e isso criou uma situação de ruptura com os responsáveis do Departamento do Clube.

Magazine-Futsal- Este ano como é que viu o campeonato de São Miguel em séniores femininos ganho pelo Clube União Micaelense?

Sérgio Roque- Não consigo fazer uma análise mais profunda, porque só acompanhei alguns jogos mas sei que Clube União Micaelense perdeu na minha opinião 2 jogadoras muito importantes na equipa e com as novas entradas de jogadoras não conseguiram dar a mesma estabilidade defensiva no jogo ao grupo esta época.

No caso do Santa Clara, sei que houve uns problemas de secretaria o que veio originar a perda de alguns pontos no campeonato e só esse fato destabiliza qualquer grupo de trabalho como se veio a comprovar no final.

Quero também deixar uma palavra de apreço para todos os responsáveis pela equipa dos Fenais da Luz pela excelente época que estão a fazer. Com a continuidade do Treinador e com a entrada de novas jogadoras penso que se tornaram numa equipa mais equilibrada e competitiva, criando muitas dificuldades aos eternos candidatos e que talvez poderão ainda fazer alguma surpresa esta época.

Magazine-Futsal- Já no regional e à semelhança do Santa Clara nos últimos anos o União Micaelense também não conseguiu vencer, na sua opinião o que falta as equipas de São Miguel para estas venceram um regional?

Sérgio Roque- Na minha opinião e penso que é partilhada por muitos dirigentes e treinadores da ilha, que ainda nos falta uma maior experiência competitiva num plano nacional e um trabalho mais cuidado e rigoroso onde não se pode queimar etapas no processo ensino-aprendizagem das nossas jovens atletas. No plano da formação há que enaltecer a coragem de alguns clubes em criar escalões de juniores femininos e ai sim, dentro de alguns anos já poderemos ter uma maior evolução neste campo, uma vez irão aparecer nas equipas seniores novas atletas com formação em futsal e não antigas jogadoras de futebol 7 onde a única alternativa que tinham para continuar a representar os seus clubes era jogar futsal.

E foi isso que aconteceu com a equipa do Posto Santo, que ao longo de estes anos foi conseguindo renovar a sua equipa sénior praticamente com atletas vindas do escalão inferior do seu clube, mantendo o seu Modelo de Jogo.

Magazine-Futsal- Depois de sair do Santa Clara recebeu vários convites para treinar, o que o levou a escolher o Norte Crescente?

Sérgio Roque- Foi realmente o seu Projeto, que apesar de ser ainda um clube com poucos anos de vida, já apresenta alguma estrutura solida e com bases para desenvolver um bom trabalho no plano da formação.

Magazine-Futsal- Em 2008 e apenas com dois anos como treinador foi convidado pela A.F.P.D. para ser o selecionador para o futsal, cargo que mantém até hoje. Como se sentiu na altura com o convite?

Sérgio Roque- Foi com muito orgulho que aceitei este convite feito pela direcção da A.F.P.D. onde tentei sempre estabelecer um nível alto de trabalho com os grupos seleccionados. Obviamente, nem sempre foram alcançados os objectivos pretendidos por nós, mas penso que conseguimos proporcionar novas experiências competitivas para esses atletas. Claro que me dá sempre uma satisfação pessoal observar que ao longo destes últimos anos começam a ser a incluídos, estes jovens jogadores, em equipas que estão inseridas em competições nacionais no escalão sénior.

Magazine-Futsal- Que balanço faz das participações deste ano das duas seleções (Sub14 e Sub16) de futsal nos Torneios Regionais Inter Associações?

Sérgio Roque- No que diz respeito á participação do Torneio nacional em Sub16, posso afirmar que poderíamos ter feito mais qualquer coisa, e quando digo isto, falo no sentido do grupo de trabalho, fora do campo, algumas situações não correram bem, isso depois reflectiu-se dentro campo, onde tivemos fazer 4 jogos em 3 dias, com uma intensidade competitiva muito grande e com poucas horas de repouso.

Quanto ao torneio regional dos sub-14, infelizmente só participaram as selecções de S. Miguel e Angra do Heroísmo, levando a que houvesse somente 2 jogos. No primeiro jogo acabámos por perder por uma diferença de 1 golo. No segundo dia com um espirito de grupo muito forte com uma vontade enorme de vencer, conseguimos vencer o jogo por 3 bolas a zero, conquistando o primeiro lugar do Torneio.

Magazine-Futsal- Agora é o treinador dos Juniores do Norte Crescente, clube onde também é coordenador técnico do futsal e onde é responsável por 7 equipas de formação. Quais são os seus planos para o futuro no Norte Crescente?

Sérgio Roque- Dotar cada vez mais, os treinadores responsáveis pelos diversos escalões da nossa  formação,  de instrumentos de trabalho, para que possam superar de uma forma mais simplificada todas as dificuldades que lhes vão surgindo diariamente com os seus grupos de trabalho.

Magazine-Futsal- Na sua carreira trabalhou no Lagoa e Benfica, Pico da Pedra, Rabo de Peixe, Atalhada, Santa Clara e Norte Crescente, destes clubes há algum que o tenha marcado? De que forma?

Sérgio Roque- Todos foram especiais, onde em alguns, passei grandes momentos e conquistas, outros, foram passagens mais curtas onde infelizmente não consegui alcançar os objectivos que pretendia, mas faz parte da vida de um treinador.

Magazine-Futsal- Ao longo dos anos já trabalhou em vários escalões tanto nos clubes onde passou como nas seleções, tem algum escalão preferido para trabalhar?

Sérgio Roque- Não. Desde a instituição em causa, ofereça a melhores condições possíveis para trabalhar, será sempre meio caminho andado para um treinador poder alcançar os seus objectivos.

Magazine-Futsal- Na sua opinião quais são os principais problemas do futsal em São Miguel?

Sérgio Roque- Na minha opinião penso que ao nível local, os clubes apesar de já terem boas condições de trabalho, na maioria, ainda pensam no objectivo da conquista imediata, em ter os jogadores mais evoluídos tecnicamente nas suas equipas de formação  sem ter um objectivo a médio/longo prazo, onde realmente se possa ver a evolução de um atleta no plano tático, que tenha um conhecimento mais profundo do jogo no que diz respeito aos seus princípios e modelos. E isso será sempre da responsabilidade do seu treinador.

Magazine-Futsal- Considera que o facto de não existir cursos de treinadores prejudica o futsal em São Miguel?

Sérgio Roque- Obviamente com esta interrupção de alguns anos houve a impossibilidade de surgirem novos treinadores com um conhecimento mais profundo do que é o futsal.

Magazine-Futsal- Onde pensa estar daqui a 10 anos?

Sérgio Roque- Neste momento só penso no presente, em fazer um bom trabalho no meu clube e como seleccionador na A.F.P.D.