Entrevista com Carlos Santos, treinador de Futsal
Carlos Santos, natural da Lagoa, com 34 anos de idade, treinador de futsal de nível I, desde 2008 na AFPD. Treinou em competições oficiais da AFPD os clubes, Operário, São Vicente Ferreira, CD Valentes, Universidade dos Açores e CE Vila Franca do Campo, estes últimos dois na vertente feminina.
Correio Açores – Que análise faz dos 10 anos de futsal federado em S.Miguel e Stª Maria?
Carlos Santos – De uma forma geral o desenvolvimento do futsal da jurisdição da AFPD é positiva. Recordando de como começamos há 10 anos, época 2003-2004, que foi intitulada de “ano zero”, a evolução é notória, no plano desportivo e estrutural. Passados esses anos temos participações de nível nacional de equipas e de árbitros o que muito honra a nossa ilha e prova que as estruturas evoluíram.
CA – O que pensa da evolução do Futsal, teria sido possível evoluir mais?
CS – Tal como referi, houve uma notória evolução, ou não teria sido possível as participações dos clubes nos nacionais que tivemos e ainda temos. Porém, penso que houve um manifesto amadorismo na forma como foi feita a gestão desportiva da AFPD com a não criação de um gabinete técnico na área do Futsal por um lado, a incapacidade e/ou amadorismo nas estruturas dos clubes, por outro. É impensável termos um clube na 1ª divisão e o mesmo não ter todos os escalões de formação em competição, nem ter uma estrutura autónoma desportiva e financeira. Seguindo este raciocínio, penso que houve um descuido por um lado da AFPD ao não ter um gabinete técnico de futsal, o que impediu claramente a modalidade de evoluir, senão vejamos o que acontece na ilha Terceira onde a modalidade é disputada e debatida durante todo o ano, sempre com a participação directa da AFAH. Ao nível dos clubes e devido à inexistência de cursos de treinadores, de que todos somos alheios, originou que no banco técnico não haja pessoas qualificadas a orientar as equipas.
CA – A chegada de treinadores do Continente para treinar os clubes que estão nas provas nacionais, foi uma mais-valia na evolução técnica da modalidade?
CS – Temos de ter em conta duas actuações distintas, uma na óptica dos conteúdos técnicos e modelos de trabalho que são notoriamente uma mais-valia para os treinadores locais, quando estes têm oportunidade de assimilar de perto esses modelos. A outra prende-se com a implementação dentro do clube, na área do treino e formação dos jovens atletas, salvaguardo aqui a imensa mais valia para o futsal Micaelense do mister Roger Augusto, que deixou frutos na área do processo de treino, por exemplo.
CA – Que analise faz da relação entre treinadores, dirigentes e árbitros?
CS – Esta é uma questão muito antiga e que convém desmistificar rapidamente. A formação individual de cada uma destas classes não foi uniforme, pois reconheço claramente que os árbitros tiveram ao longo dos últimos anos muito mais formação que treinadores ou dirigentes. O problema é que, segundo sei, são poucos os treinadores e dirigentes que procuram na pré época, a Academia de Árbitros de Futsal de S.Miguel afim de serem esclarecidos nas suas dúvidas. Faço sempre este convite desde há muitos a esta parte aos responsáveis da arbitragem, pelo que agradeço desde já na pessoa do Rui Martins e Marco Tavares pelo apoio gratuito que sempre me deram e aos clubes por onde passei.
CA – Já treinou ao longo destes anos muitos atletas e diversos clubes, houve algum que lhe marcasse mais?
CS – De forma geral, em todos os clubes por onde passei tive uma aprendizagem muito positiva, visto que trabalhei sempre de forma gratuita e apenas por paixão à modalidade. O São Vicente Ferreira marcou-me especialmente, porque houve a oportunidade de treinar alguns dos melhores jogadores em São Miguel, com quem mantenho ainda uma boa relação de amizade. A Universidade teve um sabor diferente pois foi um projecto da minha co-autoria e do presidente Valquirio Barcelos. Em relação aos jogadores que treinei, considero ter sido um privilégio treinar todos, contudo pela sua qualidade técnica o Carlos Arraial conhecido no meio do Futsal por “Minhoca”, marcou-me pelo percurso que fez. Mas considero que a melhor atleta que alguma vez treinei foi sem dúvida a Eugénia Moniz, pela sua forma “profissional” e abnegada de trabalhar e também pela sua entrega total ao grupo, sendo isso em meu entender um exemplo a seguir.
CA - Na próxima época e tal como se sucedeu no futebol, a Série Açores pode passar a competição Regional. Teme que isto possa mesmo vir a acontecer?
CS – Em primeiro lugar, não concordo com este modelo da Liga Meo Açores em Futebol. Considero até um gasto desnecessário de dinheiro público, aliado a uma certa falta de verdade desportiva por parte da entidade organizadora (AFAH). Assim, não posso aceitar que os “altos” dirigentes associativos, queiram este mesmo modelo para o Futsal. Se acontecer é um grande passo atrás na evolução da modalidade!!! Ou avançamos para o que está regulamentado pela FPF, que prevê a subida dos dois primeiros classificados, mais um Campeão Regional dos Açores, (vencedor este que não tem prova calendarizada por parte das Associações dos Açores para o seu apuramento) podendo ficar a 2ª divisão com cinco equipas Açorianas a competir, ou a criar-se um novo modelo para a série Açores, que terá sempre de ter em conta os clubes participantes nela mais os que subirão dos distritais, mas nunca num modelo de prova inferior ao que temos actualmente, onde é organizada por uma entidade neutra (FPF). Julgo que criar um organismo Açoriano eleito por todos os clubes com Futsal, seria uma boa resolução com eficaz resultado já para a próxima temporada. Mas em todo este processo de discussão creio que os principais visados, que são os clubes, deveriam já ter sido ouvidos sobre qual a melhor solução para o futuro.
CA - Que mensagem gostaria de deixar aos adeptos e praticantes do Futsal?
CS – Quero deixar a mensagem de um treinador verdadeiramente apaixonado pela modalidade, ou seja que os adeptos assistam aos jogos das suas equipas de forma organizada “claques” pois isso potencia ainda mais a paixão e a responsabilidade de quem treina e quem joga futsal. Aos praticantes, que sejam cada vez mais “profissionais” na sua forma amadora de praticar futsal, alertando os mais jovens e em especial as “miúdas” para a prática deste desporto que é de facto apaixonante, na sua vertente de grupo e no estilo de jogo. Deixo aqui ainda um alerta aos professores de Educação Física, para serem mais incisivos na inclusão da modalidade nas suas escolas. Considero que seguindo essa mensagem, no futuro teremos muito mais “talentos” a despontar no Futsal.
Entrevista de José Araújo